"Algumas coisas só se podem fazer em crescido. Ler alguns livros, reparar noutras singularidades, só se faz em crescido. E perceber esses livros e esquecê-los em seguida, só em crescido. Sofrer como nalgumas vezes só pode acontecer em crescido, porque antes simplesmente não há coração para isso, ou melhor, há, mas ele não aguenta.
Abrir as janelas de par em par, perder um passado num rés-do-chão rente à vida (a cama do amor), só em crescido. Ser mais calmo, cozer o Outono num lume brando, falar tranquilamente connosco, ouvir músicas desabrigado e escrever a saudade num refrão em silêncio (noite alta) com a boca, os dedos, os olhos, os sentidos todos e ficar, só em crescido.
Respirar o Céu, esquecer o Sol, beber a água toda de um rio, escreer copiosamente com tinta azul-chuva dos teus olhos palavras excessivas e tentar movê-las numa dança pela sombra que fazem num papel... dar, enfim, um ramo de flores à Primavera, só em crescido.
Mesmo que doa, e para lá chegar custa(!) - não sabe a azedo -, só em crescido se fica mais próximo de viver a vida toda."
in "Crescer Vazio" de Pedro Strecht
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